Criatividade, dinamismo, habilidade para lidar com grupos sociais diversos e capacidade de tomar decisões com rapidez são características desejáveis a um relações públicas. Também conhecido como RP, esse profissional é responsável por delinear, executar e avaliar ações estratégicas de comunicação para os clientes, sejam eles organizações ou personalidades do mundo político, esportivo ou artístico. Embora a profissão tenha sido regulamentada em meados da década de 1960 (Lei nº 5.377/67 e Decreto-Lei nº 860/69), há registros de que ela é exercida desde o início do século passado no Brasil. Ainda assim, existe uma certa confusão no ar. Em geral, a designação relações públicas soa familiar às pessoas, mas nem todas entendem exatamente o papel desse comunicador. O incômodo é sentido por estudantes, recém-formados e profissionais já experientes.
Para esclarecer as questões que rondam o universo de um RP, a universitária Renata Delmara conversou com Flávio Schimidt, presidente do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas (Conferp). No encontro, a estudante, que está no último semestre do curso na Faculdade Anhanguera, ouviu de Flávio que a demanda pela profissão tem crescido nos últimos anos. Com a boa situação do Brasil no cenário econômico mundial, as perspectivas são as melhores possíveis.

R$ 15 mil e R$ 30 mil”.
Renata — O que faz um relações públicas?
Flávio — Somos responsáveis pela comunicação organizacional, seja ela interna ou externa, das empresas e instituições. Atuamos para formar e fortalecer a imagem de pessoas físicas também, tais como lideranças, empresários, esportistas, políticos. Nosso papel é sempre encontrar meios para consolidar uma posição do cliente em relação ao público que o cerca.
Renata — Que meios seriam esses?
Flávio — Devemos estar aptos a trabalhar a comunicação da organização, o que pode ser feito de forma global ou segmentada. Realizamos pesquisas de opinião pública, promovemos divulgação jornalística, elaboramos veículos internos, como boletins e vídeos institucionais. Somos ainda responsáveis por organizar a estrutura geral de eventos, redigimos e coordenamos cerimoniais e protocolos, intermediamos a criação de campanhas mercadológicas e administramos a interface com o consumidor final, entre outras coisas.
Renata — Qual é o perfil ideal desse profissional?
Flávio — É muito importante ter boa formação universitária porque isso facilita a aquisição de uma visão organizacional ampla. Também é fundamental se relacionar bem com colegas de outras áreas da comunicação, ou seja, saber lidar e trabalhar com jornalistas, profissionais de marketing e de assessoria de imprensa. Hoje, esses campos parecem estar misturados, mas, na verdade, o RP faz uma interface com eles. Devemos transitar e ter contato direto com o setor administrativo, o RH e todos os segmentos de uma organização. É isso que garante subsídios para trabalharmos bem a imagem do cliente.
Renata — Onde o RP pode atuar?
Flávio — Tanto em microempresas quanto em multinacionais de qualquer segmento. O RP tem formação organizacional, administrativa e política, e pode atuar onde há necessidade de comunicação — na rede hoteleira, no segmento industrial, nas áreas de turismo, de serviços e até na política. Em Brasília, pode-se atuar com parlamentares, lideranças e órgãos públicos. Aos poucos, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário estão se conscientizando da importância dos RPs, disponibilizando vagas nos concursos para nossos profissionais.
Renata — É mais comum as agências de relações públicas serem contratadas pelas empresas privadas do que as organizações montarem sua própria equipe de RPs?
Flávio — Sem dúvida. No contexto econômico dos últimos anos, cujo quadro de pessoal é sempre enxuto, a operacionalização do trabalho geralmente é feita pelas agências. Algumas organizações têm equipes grandes e próprias, mas, ainda assim, como as agências se especializaram, são contratadas com frequência para trabalhos eventuais ou como terceirizadas para determinadas funções. Comunicação interna, relações governamentais, relacionamento com o cliente, solução de crises e publicação são áreas nas quais podemos atuar.
Renata — Qual é a área de atuação mais promissora?
Flávio — Vivemos um ótimo momento. No passado, nosso trabalho era feito por profissionais de outras áreas, mas o mercado percebeu que o RP estuda os relacionamentos a fundo e está valorizando essa habilidade cada dia mais. Podemos nos especializar dentro de um, dois ou mais segmentos da nossa profissão. Acho a comunicação interna muito atraente para quem está começando; a área de responsabilidade social e sustentabilidade também é. O recém-formado pode escolher uma e se aperfeiçoar. Ao longo da carreira, vai partindo para novos desafios. Sempre digo que o mais importante é não se limitar, não perder a visão global e estratégica que o RP deve ter.
Renata — Com os grandes eventos esportivos que o país sediará nos próximos anos, o RP pode ter mais oportunidades?
Flávio — O nicho esportivo é fantástico. A Copa do Mundo de futebol trará boas oportunidades. Não apenas pelos jogos, mas pelo próprio clima e planejamento que o evento envolve, assim como as Olimpíadas.
Renata — Que tipo de complemento pode contribuir para a formação de estudantes e de profissionais que já estão no mercado?
Flávio — É fundamental buscar cursos complementares para aprimorar o conhecimento. Eu me especializei em pesquisa e auditoria de opinião, comunicação interna e administração de crises. Quando um cliente demanda outros serviços, chamo parceiros para atuarem comigo. O RP deve estudar sempre, mesmo que seja por conta própria. É importante investir em livros e conhecimentos gerais relacionados à comunicação. Especialização e MBAs são fundamentais para o bom profissional. Hoje, as empresas consideram esses títulos praticamente obrigatórios quando selecionam alguém.
Renata — Qual é o maior desafio dessa profissão atualmente?
Flávio — São muitos, mas o maior é acreditar no trabalho que podemos realizar. A maioria dos RPs ocupa níveis gerenciais. Para chegar mais longe, é preciso ter bagagem, estudar sempre e estar a par das mudanças do mundo, ou seja, estar atualizado.
Renata — Ainda existe o estigma de que o RP não é valorizado?
Flávio — Eu acho que não somos conhecidos. Muitos empresários não sabem o que fazemos. Quando precisam de um relações públicas, nem sempre sabem que existe um profissional que estudou e atua para fazer esse tipo de comunicação. O Conferp está trabalhando para que os RPs sejam mais reconhecidos.
Renata — O relações públicas precisou adquirir uma nova postura diante das recentes tecnologias que são usadas também pela comunicação?
Flávio — Sem dúvida. Na verdade, acho que ainda estamos aprendendo a lidar com as redes sociais. Elas trouxeram uma dinâmica impressionante, mas ainda estamos treinando usá-las de maneira eficaz. Jornalistas, assessores de imprensa e publicitários também estão aprendendo. Hoje, mais divulgamos informações do que cuidamos efetivamente da imagem do cliente por meio desse tipo de comunicação. Ainda há muito a se aprender com essa e outras tecnologias.
Renata — Você acredita que optou pela profissão certa?
Flávio — Sim. Não me arrependo. Fiz um bom estágio e procurei trabalhar com profissionais que eram referência no país. Fui assistente de dois RPs muito gabaritados no Brasil e isso me deu conhecimento e segurança para atuar em uma holding e em uma agência internacional antes de abrir minha própria empresa.
Renata — Quantos profissionais existem no país?
Flávio — Acredito que formados há mais de 50 mil. Registrados no Conferp existem cerca de 9 mil.
Renata — Você lançou um livro este ano. Do que se trata?
Flávio — No decorrer da minha carreira, contribuí com capítulos para algumas publicações e passei a ter o hábito de produzir artigos que foram publicados na internet. No livro Do Ponto de Vista de Relações Públicas – razões muito mais fortes para você atuar no ambiente da comunicação, conto a minha experiência como profissional, o que testemunhei nos últimos anos e como os fatos foram trabalhados pelos RPs. O livro aborda os principais acontecimentos desde 1990, como o início da globalização e a internacionalização dos mercados, a globalização da comunicação, as mudanças econômicas, políticas, as eleições no Brasil na era Lula, o ataque terrorista às Torres Gêmeas e muito mais.
Nome
Flávio Schimidt, 59 anos.
O que faz
Formado em comunicação social com habilitação em relações públicas, atua há 26 anos na profissão. Trabalhou para grandes empresas nacionais e multinacionais, foi professor universitário e hoje é proprietário de uma agência/consultoria. Schimidt é presidente do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas (Conferp).
Entrevista do presidente do Conferp, Flávio Schimidt, à formanda Renata Delmara da Faculdade Anhanguera, matéria publicada no Correio Braziliense de domingo, dia 12 de dezembro.