Comunicação nas empresas em tempos de teletrabalho

Márcia Bueno

O isolamento social imposto à população em razão da pandemia do coronavírus  compeliu empresas e trabalhadores a uma nova realidade na relação de trabalho,  em que o teletrabalho deixou de ser apenas  uma alternativa  para se tornar, repentinamente, uma importante opção para continuidade da prestação dos serviços e da manutenção dos empregos.

Como afirmou o historiador Yuval Harari, o mundo não será o mesmo após a pandemia e o coronavírus acelerou muitas mudanças já em curso e muitas medidas de emergência de curto prazo se tornarão hábitos de vida. Comportamentos modificados e adaptados a um novo mundo cada vez mais virtualizado em que o distanciamento e desterritorialização comentada pelo filósofo e pesquisador em ciência da informação e da comunicação Pierre Levy se tornam cada vez mais evidentes.

O teletrabalho, aqui entendido como o realizado por intermédio de computadores e telecomunicação, não é novidade. Esse novo desenho na relação de emprego teve início nos anos 70 do século passado nos países desenvolvidos e vem se consolidando no resto do mundo.

Os defensores desse modelo destacam entre as vantagens a redução de custos operacionais, aumento da produtividade, maior controle da produção e retenção talentos com manutenção de mão de obra que em outra situação seria inalcançável.

Por outro lado, os críticos como o grande psicanalista Christophe Dejours, especialista em medicina do trabalho, destacam como desvantagens a deterioração das relações de trabalho causada pelo isolamento social, a qual sentimos tão intensamente nesses tempos de Covid -19 , e o empobrecimento da comunicação, especialmente a horizontal, que dificulta o aprendizado e limita a troca de experiências.

A falta de contato com os colegas de trabalho pode ensejar a médio prazo o comprometimento da cultura da empresa. Valores e diretrizes da instituição podem perder força uma vez que o distanciamento espacial e a impossibilidade de contato face a face dificulta a comunicação informal. Importante lembrar que a comunicação informal é um elemento essencial das organizações e serve de apoio socioemocional para as pessoas e permite a colaboração entre indivíduos, sendo um fator crucial para a criatividade.

Numa breve retrospectiva observamos que, nos últimos 40 anos, as empresas passaram a dar mais atenção aos colaboradores ao perceber que teriam maiores chances de sucesso e lucratividade conquistando a confiança e engajamento dos seus empregados. Uma nova compreensão de gestão de pessoas em que a comunicação interna passou a merecer o mesmo empenho aplicado às ações de comunicação de suporte ao marketing.

Nesse modelo, numa perspectiva de comunicação integrada pensada inicialmente pela professora e relações públicas Margarida Kunsch, profissionais de relações públicas, publicidade e jornalismo atuam conjuntamente para adotar linguagens e mensagens para todos os públicos com os quais a empresa se relaciona, empreendendo considerável esforço na comunicação com o público interno. Dessa forma, recursos como jornal mural, e-mails, eventos internos, intranet, house organ são largamente utilizados, grande parte pensados para situação em que os colaboradores se concentravam ou desempenhavam suas funções dentro das instalações da própria organização.

Mas o que fazer no atual momento que nos força ao mínimo contato físico e que o home office passou a ser realidade para muitos empregados?  Principalmente considerando que após a pandemia, o teletrabalho continuará como importante condição na gestão dos recursos humanos? Pensar a comunicação interna que permita a interação e o engajamento entre trabalhadores no ambiente virtual é o desafio que se impõe às empresas.

Nessa mudança acelerada em razão da pandemia, muitos lançaram mão de e-mails e das redes sociais, especialmente o whats app e o hangouts, na tentativa de estabelecer comunicação de uma forma mais ágil. Mas esses recursos têm funcionado basicamente como meios de repasse de informação, sem abertura para uma interação que estimule amplamente a criatividade ou a sensação de pertencimento.

Temos de considerar que passamos a existir além da realidade física, sendo necessário repensar as alternativas que melhor se encaixem nessa nova contexto do universo do trabalho. O repasse de informações via e-mail e a permissão de que o funcionário teça alguns comentários no rodapé de uma publicação na intranet são recursos muito limitados. Por isso, mais do que nunca, o planejamento e a utilização da comunicação integrada aliada a todos os recursos oferecidos pela convergência digital para repensar alternativas comunicacionais nunca foram tão bem-vindos. É preciso inovar ainda mais.

* Márcia Bueno
Assessora de Comunicação Social
Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho de Goiás
Goiânia – GO